Imaginem (por Mário Crespo)
00h30m
Imaginem que todos os gestores públicos das 77 empresas do Estado
decidiam voluntariamente baixar os seus vencimentos e prémios em dez
por cento. Imaginem que decidiam fazer isso independentemente dos
resultados. Se os resultados fossem bons as reduções contribuíam para a
produtividade. Se fossem maus ajudavam em muito na recuperação.
Imaginem que os gestores públicos optavam por carros dez por cento mais
baratos e que reduziam as suas dotações de combustível em dez por
cento.
Imaginem
que as suas despesas de representação diminuíam dez por cento também.
Que retiravam dez por cento ao que debitam regularmente nos cartões de
crédito das empresas.
Imaginem
ainda que os carros pagos pelo Estado para funções do Estado tinham
ESTADO escrito na porta. Imaginem que só eram usados em funções do
Estado.
Imaginem
que dispensavam dez por cento dos assessores e consultores e passavam a
utilizar a prata da casa para o serviço público.
Imaginem que gastavam dez por cento menos em pacotes de rescisão para quem trabalha e não se quer reformar.
Imaginem
que os gestores públicos do passado, que são os pensionistas
milionários do presente, se inspiravam nisto e aceitavam uma redução de
dez por cento nas suas pensões. Em todas as suas pensões. Eles acumulam
várias. Não era nada de muito dramático. Ainda ficavam, todos, muito
acima dos mil contos por mês. Imaginem que o faziam, por ética ou por
vergonha. Imaginem que o faziam por consciência.
Imaginem o efeito que isto teria no défice das contas públicas.
Imaginem os postos de trabalho que se mantinham e os que se criavam.
Imaginem os lugares a aumentar nas faculdades, nas escolas, nas creches e nos lares.
Imaginem
este dinheiro a ser usado em tribunais para reduzir dez por cento o
tempo de espera por uma sentença. Ou no posto de saúde para esperarmos
menos dez por cento do tempo por uma consulta ou por uma operação às
cataratas.
Imaginem remédios dez por cento mais baratos. Imaginem dentistas incluídos no serviço nacional de saúde.
Imaginem a segurança que os municípios podiam comprar com esses dinheiros.
Imaginem uma Polícia dez por cento mais bem paga, dez por cento mais bem equipada e mais motivada.
Imaginem as pensões que se podiam actualizar. Imaginem todo esse dinheiro bem gerido.
Imaginem
IRC, IRS e IVA a descerem dez por cento também e a economia a soltar-se
à velocidade de mais dez por cento em fábricas, lojas, ateliers,
teatros, cinemas, estúdios, cafés, restaurantes e jardins.
Imaginem
que o inédito acto de gestão de Fernando Pinto, da TAP, de baixar dez
por cento as remunerações do seu Conselho de Administração nesta altura
de crise na TAP, no país e no Mundo é seguido pelas outras setenta e
sete empresas públicas em Portugal. Imaginem que a histórica decisão de
Fernando Pinto de reduzir em dez por cento os prémios de gestão,
independentemente dos resultados serem bons ou maus, é seguida pelas
outras empresas públicas.
Imaginem que é seguida por aquelas que distribuem prémios quando dão prejuízo.
Imaginem que país podíamos ser se o fizéssemos.
Imaginem que país seremos se não o fizermos.
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