(Imprensa, Rádio e Televisão, 2ºano, 15 de Maio de 2009. Trabalho
realizado em virtude da acividade organizada pelos alunos de Engenharia
da Reabilitação da UTAD)
David baloiçava as rodas da cadeira e dançava!
A música, ele sente de outra maneira. A dança é sempre mais qualquer coisa.
A magia da música popular enchia-lhe os olhos e a alma…enchia-lhe o
coração. Foi nesse momento que percebi que tudo nesta vida é possível.
A tarde foi de festa, sorrisos, igualdade para todos. De muitas
danças. Movimentos conjugados a uma só vontade: mostrar, que afinal,
todos podem dançar.
A alegria, a liberdade de movimentos ainda que um pouco
condicionados para alguns estava estampada nos rostos de todos os
participantes do Workshop de dança levado a cabo pelo Núcleo de alunos
de Engenharia da Reabilitação e Acessibilidade Humana da UTAD ( NAERA).
Segundo Abel Trigo, Vice-Presidente do Núcleo, a ideia deste evento
foi inspirada no presidente do Núcleo, David Fonseca: «Ele é um
dançólico anónimo, que sempre que pode não deixa de dar um pezinho de
dança, sempre com gosto e muita paixão».
David é surdo, mas essa limitação nunca o impediu de dançar. E, por
isso, foi um dos participantes mais animados do workshop. Sem
barreiras. Sem impedimentos.
E o objectivo era mesmo esse, mostrar que qualquer pessoa pode superar os obstáculos. Sejam eles de que tipos forem.
E foram muitos os bailarinos amadores que quiseram juntar-se à festa
e ao ritmo da música popular como o malhão e que encheram parte do
primeiro piso do Centro Comercial Dolce Vita.
A música convidava todos a juntarem-se. O ambiente, desprovido de
preconceitos, onde todos eram iguais, partilhava do mesmo ritmo e da
mesma vontade de dançar.
O Dolce Vita ganhou o brilho que há muito faltava. Naquela Quarta-Feira tudo ganhou nova cor…a cor da igualdade.
«Dançar com a diferença», foi a frase de honra numa tarde que tão
bem mostrou que tudo é possível, que ensinou a ver para além de tudo
aquilo que imaginávamos estar ao alcance de todos… dançar de olhos
vendados, perceber que as musicas tão normais podem ser encaradas de
maneira tão diferente por aqueles que não enxergam como nós.
Carolina, estudante de engenharia da reabilitação ouviu às escuras por uns minutos.
«Sabes que podes ir para a frente e para trás, mas não te apercebes totalmente dos movimentos do corpo»
A dança vai para além de uma simples batida ou de um simples ritmo,
a dança é exprimir artisticamente gestos coordenados onde se conjuga um
misto de emoções, sentimentos, alegrias…
O Dolce Vita foi o palco, e todos os curiosos e todos os que
quiseram participar serviram de mote para que se mostrasse que às vezes
é a própria sociedade que coloca barreiras onde a própria deficiência
não as tem.
Para Abel Trigo, «A música é sentir e as incapacidades não
impossibilitam as pessoas de nada, qualquer pessoa pode dançar, pessoas
de cadeira de rodas, pessoas cegas, pessoas surdas, inclusivamente
pessoas com paralisia cerebral que dançaram e acima de tudo se
divertiram».
E o sorriso de missão cumprida estampado no seu rosto não deixava negar tudo aquilo que afirmava.
«O balanço foi muito positivo, muito positivo mesmo, foi uma tarde
fantástica. Houve escolas que trouxeram cá os alunos, que deram aulas
aqui, aulas de reabilitação psicomotora. Foi objecto de estudo, tudo
isto, também» dizia ainda Abel.
E a missão estava mesmo cumprida.
Esta foi uma entre muitas iniciativas que o Núcleo levou a cabo, uma
das últimas foi o «Jantar às escuras», que convidou todos a comerem sem
sequer saber onde estavam os talheres, ou terem sequer conhecimento do
prato.
Surgiu com a ideia de sensibilizar toda a população para as dificuldades que um cego pode ter no seu dia-a-dia.
Para que todos aprendessem a ver para além daquilo que os olhos alcançam.
Aprender a ver com os sentidos…em sintonia.
Engenharia da Reabilitação e da Acessibilidade Humana começou a ser
leccionado em 2007 e é a primeiro curso com este tipo de formação de
raiz em toda a Europa.
Francisco Godinho, responsável pelo Centro de Engenharia de
Reabilitação e Acessibilidade (CERTIC) e também coordenador do curso,
realça a sua importância.
«É um curso que visa dar mais autonomia quer a pessoas com
deficiência quer a idosos, uma área de população não tão restrita, que
conta com 22% da população e que tem sempre tendência a aumentar».
Na realidade, o curso de Engenharia da Reabilitação é a profissão ou
actividade orientada para a aplicação da ciência e da tecnologia na
melhoria da qualidade de vida de populações com necessidades especiais,
nomeadamente pessoas com deficiência, idosos e acamados em áreas como o
acesso a tecnologias e serviços, educação, emprego, saúde e
reabilitação funcional, mobilidade e transportes, vida independente e
recreação.
É na verdade um projecto de louvar.
É já e 2010 que os primeiros alunos formados saem para o mundo do
trabalho e segundo Francisco Godinho: «Vão disputar território com
outros utilizadores».
«É preciso mostrar o lado mais humano do curso, e por isso mesmo os
alunos tiveram todas estas iniciativas, desde o Jantar às escuras, a
exposições de equipamentos, actividades de mobilidade e agora a dança»
Um cego, um surdo, um tetraplégico têm tanto ou mais direito.
Ensinam diariamente a todos que o que fazem, é feito ainda com mais valor.
E como dizia a D. Maria Adelaide Costa que assistiu de perto a toda
aquela “confusão” instalada no Centro Comercial, «é sempre bom
lembrarem-se de quem precisa.».
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