Daniela
Gomes tem 28 anos e é Médica Interna Complementar de Medicina
Geral e Familiar no Hospital de Vila Real.
Licenciou-se recentemente no Instituto de
Ciências Biomédicas Abel Salazar - Universidade do Porto.
Hoje falou-nos um pouco sobre a depressão e tirou todas
as dúvidas!
Por Sara Carvalho
Sara Carvalho (SC): O que
é a depressão?
Daniela
Gomes (DG): O termo
depressão gera enorme confusão diagnóstica entre os profissionais de saúde, por
conta dos inúmeros significados que o termo tem – por exemplo, um estado
afetivo normal, um sintoma, uma síndrome e uma doença.
Sentimento de tristeza é uma
resposta normal e adaptativa do ser humano diante de situações adversas como perda,
derrota, etc e pode ser um momento de reflexão e de preparação
para novas ações no futuro e por isso não deve ser logo alvo de intervenção
médica nem de diagnóstico psiquiátrico. Quando se fala em sintoma depressivo,
este pode surgir nos mais variados quadros clínicos, como transtorno de
stress pós-traumático, demências, esquizofrenia, alcoolismo, doenças clínicas,
e pode também ocorrer como resposta a fatores psicossociais. A síndrome
depressiva inclui alterações de humor como tristeza, irritabilidade, falta
de capacidade de sentir prazer, apatia e outros aspectos, tais como alterações
cognitivas, psicomotoras e vegetativas.
SC: Como se caracteriza?
DG: A principal característica de um episódio depressivo
maior é o humor deprimido ou a perda de interesse ou prazer por quase todas as
atividades e por um período mínimo de duas semanas. Para se confirmar uma
depressão, o doente deve experimentar pelo menos quatro sintomas entre
perda ou ganho de peso significativo, insónia, agitação ou retardo psicomotor,
fadiga ou perda de energia, culpa e auto desvalorização, diminuição da
capacidade de pensar e concentrar ou pensamentos recorrentes de morte,
tentativa ou ideação suicida. O transtorno depressivo menor é semelhante à
depressão maior, a diferença é o número de sintomas.
SC: Que tipos de problemas estão associados à depressão?
DG: Os sintomas
depressivos podem surgir nos
mais variados quadros clínicos, transtorno de stress pós-traumático, demências,
esquizofrenia, alcoolismo, doenças clínicas, como referi há pouco. Também podem
ocorrer como resposta a fatores psicossociais. A depressão tem vindo a ocupar
uma posição de destaque no rol dos problemas de saúde pública e já é considerada
a quarta doença médica mais dispendiosa para os hospitais porque os pacientes
deprimidos passam mais tempo internados do que os pacientes com diabetes,
hipertensão, artrite ou doença pulmonar crónica. É importante referir que os
doentes depressivos têm tanta incapacidade funcional quanto os pacientes com
doença cardíaca.
SC: A depressão tem cura?
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SC: Na tua opinião a sociedade atual tem mais ou menos
tendência para sofrer de depressões?
DG: Cada vez mais tendência, na minha opinião. O emprego, e
também o desemprego, a idade da reforma, o stress. A tecnologia, por
exemplo, que nos permite ser mais eficazes no trabalho e que facilita a
comunicação, também altera o ritmo de vida. Estamos mais acelerados. Não há
paciência para esperar. Ao diminuir a nossa qualidade de vida, ficamos tristes,
deprimidos. E esta tendência comprova-se em vários estudos. Segundo a OMS, esta síndrome, no ano de 2020, será a
segunda doença que mais afetará os países desenvolvidos e a primeira em países
em desenvolvimento.
SC: Está correto associar a depressão às grandes cidades?
DG: Não. O mais correto é associar a certas faixas etárias.
Adolescentes e idosos, por exemplo. Adolescência é uma fase de desenvolvimento
complicado pela pressão da sociedade para "caber num certo molde".
Quem não é moldado é posto de parte, o que gera sentimentos de desvalorização
própria, tristeza, baixa auto-estima. Nos idosos ou reformados, o sentimento de
inutilidade predomina, e fica ainda pior quando doenças osteoarticulares, por
exemplo, causam a perda de independência.
SC:
Qual a tua opinião relativamente a tratamentos alternativos como
a acupuntura ou hipnose para o tratamento da depressão?
DG: A mente é algo muito complexo e pouco compreendido e o
poder da sugestão é uma ferramenta útil e perigosa. Honestamente, não acredito
muito que essas técnicas sejam muito úteis. Antigamente sangravam-se
as pessoas para remover os tumores do fígado ou bílis. No entanto, está
comprovado que o efeito placebo funciona. Como falei à pouco, acho que o factor
stress é fundamental. Acredito que com tratamento de acupuntura e hipnose,
consegue-se relaxar e talvez seja por isso que o tratamento funciona. Eu sou da
opinião que se o doente se sente melhor então mal não faz.
SC: E
sobre a quantidade de antidepressivos e ansiolíticos que são prescritos aos
doentes com depressão? Concordas?
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SC: Quais
os conselhos que darias para que se evitem estados depressivos?
DG: Sem dúvida que eliminar as
causas contribuintes como causas ambientais, agentes físicos e outras drogas
capazes de causar a depressão, como o excesso de cafeína, é o caminho
principal. Todos devem aprender a lidar com stress. Ter passatempos, praticar
exercício porque liberta endorfinas e estimula o nosso centro de prazer
no cérebro, as mesmas endorfinas que são libertadas pelo orgasmo durante o sexo
ou quando comemos chocolate. O meu grande concelho é que todos tirem uma hora
por dia, de preferência depois do trabalho, para fazer algo que
gostem, que dê prazer. Desde um banho de imersão, ler um livro, ver televisão
ou um filme, dar um passeio a pé, que simplesmente tenham prazer nas coisas que
façam.
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